quarta-feira, março 2

Em busca de uma faísca de luz que atravessa o universo

Vagando pela superfície lunar em busca de uma faísca de luz que atravessara o universo, cruzo desertos de cor púrpura onde poeira de diamantes cortam meu rosto, ressecam meus lábios e queimam meus olhos. Sigo sem esperança de encontrar o que procuro. A vibração das rochas ao meu redor me afasta dos possíveis vestígios de civilizações perdidas nas estrelas. Oceanos secos são povoados com ondas de um vento interglacial que uiva ao percorrer as colinas inóspitas que só a alma humana consegue enxergar. Sinto que caminho por labirintos mitológicos, mas por algum motivo, trago as trilhas secretas tatuadas em meu peito, guardadas por dragões congelados, outrora paridos pelas angústias de lágrimas não derramadas. Ao subir por algumas existências a encosta de um enorme vulcão extinto, chego finalmente a beirada do grande círculo adormecido. Balanço o corpo lentamente para frente e para trás, repetidamente. A voz de uma mulher sussurra uma música a muito esquecida, perdida em algum lugar na vida de outra pessoa. Ao sentir que aquele será meu ninho de paz, aguardo pelo cometa que me resgatará deste derradeiro destino. De repente, a voz em minha mente se cala, e começo a lembrar de um sonho de infância que me acompanhou por toda a vida. Olho em volta. Percebo que estou novamente preso na minha própria fantasia inconsciente. O frio percorre minhas pernas, paralisando meus músculos inferiores até os joelhos. Fecho os olhos, como quem aguarda a amputação de um membro. Controlo a respiração pressentindo o crepúsculo de meus dias. Mas ao invés de morte lenta e penosa, sinto seus lábios tocarem minha boca e um sopro morno me invade erguendo meu corpo leve, um grão de poeira cósmica. Vejo a lua cada vez menor até se metamorfosear em uma esfera brilhante que reconheço no brilho de seus olhos.

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